sexta-feira, 26 de março de 2010

JAIR PIRES





Jair Pires é um marco na história da música evangélica nacional. Formou dupla, durante anos, com a cantora Hosana, deixando um vastíssimo repertório de obras musicais conhecidíssimas, tais como, Alma cansadaCanta meu povoA vida do crenteAlguém me tocouCristo é meu amigoQue coisa lindaQue bom seriaEstrada de espinhos,Que maravilha, dentre várias. Todas foram muito executadas mas uma tornou-se cult. Falo da valseada canção Alma cansada, gravada no final dos anos 60 pela extinta Celeste (e atualmente sob propriedade da gravadora Louvores do coração, de São Paulo), que rompeu nossas fronteiras, alcançando notoriedade inclusive em outros países.

O sucesso de Alma cansada valeu-lhe regravações da Banda & Voz, num show ao vivo no Canecão em 1990; da Mara Lima, no álbum Recordações Vol. 1, de 1995; Agê Ferreira, no disco Peça com fé; e Robinson Monteiro, que a incluiu como a sexta faixa do seu CD Prostrei-me, em 1999, disco independente e primeiro de conotação totalmente evangélica na carreira do cantor apelidado, carinhosamente, de Anjo, por seus admiradores.

A nota destoante é que até hoje, tanto nas pesquisas pelos sites que veiculam letras de canções quanto na home page referente à discografia de Robinson Monteiro, não se credita a autoria de Alma cansada a Jair Pires, o que é lamentável (confira), havendo esse reconhecimento somente nas cifras disponíveis na net das músicas da cantora gaúcha Mara Lima.

Uma ressalva revolucionária: acompanhei de perto a introdução da bateria nos discos evangélicos e qual não foi minha surpresa quando ouvi na vitrola o LPPaz, somente paz, de Jair & Hosana, disco em que o instrumento apareceu vibrantemente.

Mais história: em 2001 veio a público o cedê Banda Gerd – Volume 6, pela Aliança Produções, constando do repertório a canção Canta meu povo, do Jair Pires. No entanto, além da roupagem inovadora que a música ganhou da Banda paulista, de forma incompreensível, não se viu no encarte do CD o reconhecimento ao autor por sua criação, conforme dita a Lei Autoral em voga. Alguns anos depois o Missionário R.R. Soares incluiu a mesma obra em seu disco Cânticos da fé, atribuindo ao legítimo dono, Jair Pires, a paternidade de Canta meu povo.

Depois de desfeita a dupla com Hosana – a cantora é domiciliada no Espírito Santo, em Vitória, onde continua em atividade – Jair Pires juntou-se a seu irmão Homero Silva, inaugurando a dupla Os Galileus, gravando alguns elepês pela antiga gravadora Bandeira Branca, contendo as músicasVamos cultuarO pecado não dóiO nosso Deus está aqui e Eu preciso de Ti.

Passada a fase de Os Galileus, o incansável Jair (nome que significa “o iluminado de Deus”), embrenhou-se na estrada como cantor solo, ainda pela Bandeira Branca, marcando época comPlantando amor (O chão só dá se a gente plantar, se a gente não planta o chão não dá...).

Além da música, Jair Pires tentou a vida pública candidatando-se a vereador em 1988, pelo antigo PDC, pelo município de Nova Iguaçu, no Rio, numa chapa que reunia ainda os cantores Otoni de Paula e Carlos de Oliveira, obtendo pouco mais de 600 votos.

Na década de noventa alguns fatos (como se isto fosse novidade) marcaram ainda mais a vida musical do Jair. Um deles foi o estrondoso sucesso alcançado por Shirley Carvalhaes, sua amiga pessoal, com a gravação de Bate coração, dele, pela multinacional Warner Music, faixa inserida no discoQuero te adorar, de Shirley.

Quando as rádios evangélicas pouco executavam as canções de Jair & Hosana, d’Os Galileus e do cantor sozinho, Jair Pires surge como um furacão nas rádios com os trabalhos O homem rico e Folha seca. As músicas eram tão fortes que mesmo sem a tutela de uma gravadora na produção executiva o público cantou muito Eu comparo a vida de um homem sem Deus como a folha seca caída no chão...

Vi Jair Pires, pessoalmente, por duas vezes na minha vida. A primeira foi por volta de 1978, durante um retiro espiritual da Assembléia de Deus em Campo Grande, aqui no RJ, numa manhã de carnaval, onde foi o responsável pelo sermão em um daqueles cultos, ocasião em que não tive a oportunidade de falar-lhe. O outro encontro aconteceu lá por 2002, desta feita conversamos numa sociedade de música sobre o significado legal da arte de compor e o que advinha daí para o autor em termos financeiros.

No último dia 13 de março ocorreu o passamento de Jair Pires da Silva. O cantor esteve vitimado por um AVC ocorrido no ano passado. Em decorrência do acidente, transferiu-se do interior de São Paulo e atualmente residia na Região Serrana do Rio de Janeiro, realizando tratamento de recuperação em virtude de uma cirurgia a que se submeteu. O sepultamento deu-se no Cemitério de Edson Passos, na manhã do dia 14, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro.

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